segunda-feira, 30 de abril de 2012

SÍNDROME DO MELHOR AMIGO

SÍNDROME DO MELHOR AMIGO
    Como sempre estava num bar. Encontrei vários amigos de lugares diferentes, tentei conversar um pouco com todos.
Até que um deles soltou: - É, você é o tipo de cara que tem “síndrome do melhor amigo”.
    Toda síndrome é um conjunto de sintomas. Indícios que apontam para algo. Talvez as conversas casuais, talvez um algo mais.
    Fato; gosto de conhecer gente. Gosto de conversar, gosto de escutar e analisar as pessoas.
    Quem sabe como a de Tourette, tenho uma desordem neurológica que se caracteriza por tiques e repetições automáticos, espasmos.
    Tique em abordagens. Observo catalisadores para bons papos, tento ser agradável com opinião. Capto olhares e gestos, sou atento.
    Nas minhas noites faço muitas amizades e algumas duradouras.  Tenho repetições automáticas de assuntos, acabo sendo um contador de histórias.
    Espasmos de palavras que transbordam da boca, conversas rotineiras, casuais, sensuais.
    Sou do tipo que manda mensagens quando meus amigos menos esperam e nos momentos que mais precisam. Não sou o modelo de amigo que se encontra todo dia e nem mesmo aquele que apenas é uma boa companhia no bar. Trato negócios, fecho contratos e me comunico com os outros.
    A vida é cheia de interesses e de oportunidades. Não fecho portas, não forço janelas. Deixo a minha porta aberta a quem quiser entrar.
    Hoje aprendi a reconhecer essas características nas pessoas. Quando vejo em uma pessoa a síndrome de melhor amigo já identifico como podemos nos ajudar. Guardo com carinho esses doentes amigos com energia contagiante e que nos infectam com nostalgias preciosas.
Guardo os conselhos e presto favores ao estilo do Poderoso Chefão. Um dia, e talvez esse dia nunca chegue, eu vou lhe pedir um favor, mas até lá considere como um presente.
Já tive vários presentes e favores pagos. A amizade é realmente uma arma poderosa.

Kevin Rodhes - personagem do livro Terapia escrito por djpandacwb

sexta-feira, 27 de abril de 2012

QUADRINHOS

QUADRINHOS
    Aprendi muito sobre quadrinhos com uma ex-namorada. Tânia era magra, loira, alemã de olhos castanhos. Ela adorava dançar, quadrinhos, principalmente animes e mangás. Adorava cozinhar e me cozinhar, me deixava horas esperando, me enrolava quando eu tentava estabelecer algum tipo de relacionamento. Sim, eu era o enrolado.
    Era uma época onde eu achava importante delimitar o relacionamento. Ter espaços definidos, enquadrarmos em alguma categoria amorosa, termos espaço separados e em conjunto.
    Ela curtia cosplay e tudo ligado ao Japão, antenada em tecnologia e uma profissional da arquitetura muito competente, mas sua arte, sua paixão, sempre foi a arte da culinária. Tinha dado um bonsai de presente para ela, era um pet, um bichinho de estimação e ele acabou morrendo.
    Sempre quis ter um bonsai. Sou da teoria de plantar uma árvore, escrever um livro. (Posso ignorar a parte do ter filhos? O mundo já tem muitos – prefiro ser adepto da teoria da extinção humana voluntária. Ok, não tão radical, mas adoção é com certeza uma opção).
    Sempre com um título novo, um lançamento para assistirmos no cinema.  Tânia era divertida. Tive que reprisar todos os vídeos de: Evangelion, Great Teacher Onizuka, Love Hina, Lodoss War, Samurai Champloo, Yu Yu Hakusho, Doraemon e Cowboy Bebop.
    Nos mangás tinha uma fascinação por Yu Yu Hakusho, Doraemon, Death Note. Admiradora de Cláudio Seto, assim como eu, porém num nível de idolatria.
    Eu sempre fui muito fã das histórias da Marvel Comics graças ao mestre Stan Lee e dos Personagens de Clerks: Jay e Silent Bob de Kevin Smith.
    Discutíamos sempre sobre as influências norte americana e japonesa nos quadrinho, estudávamos um pouco os textos de Will Eisner e Scott McCloud.
    Fora os beijos agressivos, a pegada forte e os deliciosos pratos (a alemã e a torta alemã), o que mais lembro eram de nossas discussões. Principalmente sobre nosso relacionamento. Acho que insegurança minha, ou implicância dela.
    Sempre desconfiei que Tânia teve um relacionamento amoroso com sua melhor amiga Micheli. E não, não era uma tara de pensar na melhor amiga da namorada. Era uma coisa de olhar, um rastro psicológico. Talvez um pouco como a série Estranhos no Paraíso (um caso como Francine e Katchoo).
    Até que eu resolvi perguntar.
    Tânia riu sarcasticamente, negando com a cabeça. Na verdade não sei se foi sarcasticamente, pois não entendi se ela tinha um relacionamento amoroso e até hoje não sei o que eu quis perguntar, quando disse relacionamento amoroso. (Claro que algum tipo de relacionamento amoroso elas tinham – eram melhores amigas).
    Perguntei então: - Vocês já fizeram sexo?
    Ela respondeu:  - Não é da sua conta! (de modo misterioso e sério).
    Não consegui minha resposta. Coloquei-a na parede para definirmos nosso relacionamento.
    Ela respondeu: - Sem espaços definidos, nem delimitados. Não temos mais um relacionamento. Temos leituras diferente numa mesma mídia. A vida nos transformou, nosso momento passou. Agora sobra o espaço decadente da sarjeta. Acho melhor terminar.
    Eu retruquei. – Você sabe o que é a sarjeta nas histórias em  quadrinhos? A sarjeta é o espaço entre os quadros, onde a mágica acontece. Onde transformamos os quadros estáticos em movimentos. É onde a ficção se torna realidade, com a vontade e imaginação do artista e do leitor.
    É a parte que respeita os espaços e dá tempo para pensarmos. É onde a individualidade se torna conjunto.
    Nos beijamos.
    Terminamos semanas depois. Ela não respeitava mais meu quadro.
Ela quis voltar, mas pensava demais na sarjeta. Precisamos de no mínimo dois bons quadrinhos para a sarjeta funcionar. O espaço vazio não é insignificante, mas não funciona se a imaginação é de um só espaço delimitado. Seria cada um no seu quadrado? Seria a sarjeta o equilíbrio? Ainda não tinha descoberto, mas já pensava a respeito.

Kevin Rodhes - personagem do livro Terapia escrito por djpandacwb

quinta-feira, 26 de abril de 2012

RPG

RPG
    Sempre me perguntaram o que era o RPG, muita gente confunde com jogos de computador interativo (que podem ser um tipo de RPG), ou ainda com Reeducação postural global - método fisioterapêutico.
    Para facilitar as coisas, não vou falar no começo sobre o que é o tal do RPG, vou falar sobre o que é brincar de casinha (brincar de boneca, brincar com os hominhos - gíria para bonecos ou figuras de ação). Todo mundo já brincou? Não? Então vou explicar.
    Na minha infância, brincávamos de casinha. Juntavam as crianças da mesma idade que algumas vezes se separavam pelos tipos de brinquedos, outras não. Mas quando brincávamos de casinha, geralmente uma das crianças mais dominadoras, começava a delegar papéis para as outras crianças brincarem com ela.
    Geralmente uma menina escolhia ser a mãe, pegava sua boneca favorita e tratava como filha e escolhia quem ela quisesse para ser o marido. (Será uma coincidência social? Uma formação sociologia? Demonstração de dominação pelo sexo feminino?). Ok, isso foi uma brincadeira e não irei me aprofundar no mérito.
    Pois bem, outras crianças podiam brincar formando outras famílias e ainda desenvolver papéis sociais como comerciantes, bancários, empregados, chefes, com base numa infinidade de profissões definidas na época e certamente muitas vezes influenciadas pelas mídias e familiares.
    Cenas clássicas são filhos imitando principalmente pais, professores e cenas da televisão. As crianças desempenham papéis. A mamãe vai ao mercado comprar comida para casa levando a filhinha que pede para comprar um doce, a mãe decide se compra ou não. A filha decide como reagir em relação a isso e a brincadeira segue, algumas vezes a brincadeira termina com discussões por alguém reagir de maneira inesperada, não respeitando a vontade de outros.
    Agora pasmem, jogar RPG é exatamente a mesma coisa!
    No RPG, que é um jogo de interpretação de papéis, as pessoas criam seus personagens os quais devem seguir da maneira que foram criados, e com base numa história de fundo geral criado por um narrador que aponta desafios, escolhas e situações para que os jogadores interajam entre si, representando sempre um papel.
    Existem regras, e situações definidas randomicamente, ou seja, de forma aleatória que pode ser decidas por inúmeras formas, a mais conhecida é pela rolagem de dados (que podem variar a quantidade de faces para se aplicar porcentagens de sucesso e falha na situação). Qualquer pessoa que estudou o mínimo sobre probabilidade, não terá dificuldade para entender que tirar 2, 3, 4, 5 ou 6 num dado de 6 faces (conhecido como cubo ou hexaedro),  é mais fácil do que tirar apenas o número 1.
    Na vida real podemos ter dificuldade ao andar, ao correr por escadas, ao dirigir. A rolagem de dados, o elemento aleatório, contribui para que tenha falhas nos jogo também.
    Como objetos de decisão de elementos aleatórios podemos usar (cartas, dados de várias faces, moedas, roletas, escolha de objetos escondidos nas mãos, o jogo de pedra, papel e tesoura (conhecido também como jan-ken-po ou apenas pô)  ou ainda a versão: pedra, papel, tesoura, lagarto e Spock, para os mais nerds e fãs da série “The Big Bang Theory”.
    Numa brincadeira de índios versus cowboys, pode se dar chance iguais, tanto para índios e para os cowboys, ou ainda se decidir que os índios estarão em maior número e dar a vantagem aos índios, ou então dar armas de fogo para os cowboys para se diminuir de algum jeito a desigualdade numérica.
    No RPG a probabilidade dá chances para que a sorte ou azar façam um lado vencer, como na vida real.
    Na brincadeira de casinha algumas vezes as pessoas se vestiam com as roupas dos pais. No RPG, as pessoas podem se fantasiar também, para aumentar a diversão ou tornar a coisa mais teatral.
    No RPG geralmente o jogo não acaba por motivos de divergências de idéias, alguns tem sistemas complexos para tomada de decisões, mas de modo geral aceitam-se as atitudes tomadas por bom senso e respeitam as características do personagem interpretado e a decisão final do narrador.
    Tanto o RPG quanto brincar de casinha são brincadeiras fantasiosas. É um teatro, um filme, interpretado por pessoas que buscam diversão. Fantasias que se aproximam do mundo real e nos ajudam a compreender pessoas e situações. São pensamentos que nos ajudam a pensar em probabilidades e assumirmos responsabilidades por escolhas. Não existem vencedores ou perdedores. Existem pessoas que aprenderam a pensar de outras formas. Como na brincadeirinha de casinha, o jogo acaba quando as pessoas cansam dos papéis ou do mundo interpretado.
    São partes do processo pedagógico desenvolvido em diversos níveis: antropológicos, sociológicos, psicológico, culturais.
    Não ache que jogadores de RPG são muito diferentes das crianças brincando ou dos atores interpretando.
    Não ache que eles são diferentes de você ao simular uma situação numa tomada de decisão.
    Eu gosto de jogar RPG, como gosto de jogar pôquer (poker texas hold’em) ou empinar pipa.
    Jogadores de RPG são pessoas como você e se submetem aos mesmos diretos e deveres. Não seja hipócrita repulsando sem conhecer. Afinal, ao meu ver, todos algum dia foram jogadores de RPG.

Kevin Rodhes - personagem do livro Terapia escrito por djpandacwb

quarta-feira, 25 de abril de 2012

PRESENTES

PRESENTES
    Sou do tipo de gosta de dar adjetivos para as pessoas, como presentes especiais. Relembrar que existe algo nela mesma que havia esquecido. O mundo é rápido, caótico e desenfreado. Falta-nos reflexão.
    As facetas sutis de qualidades e defeitos, não apenas para descrever, mas para lembrar. Lembrar quem somos, quem fomos, quais caminhos escolhemos e assumimos. Temos essências e derivações. Seres mutáveis e questionáveis. Previsíveis, porém inconstantes.
    Pequenas coisas demonstram as características das pessoas através dos nossos sentidos.
    A análise do comportamento humano, para saber como descrever alguém algumas vezes serendipidade, mas mesmo assim, encontrada por observação, descrição, controle, falseabilidade e chegar até causalidade (identificando, correlacionando e analisando o tempo que levaram) ou fundamentaram tais características, ou seja, através de um método científico, utilizando-se as informações adquiridas por todos os seus sentidos e recebidas através das expressões das pessoas, expressões corporais de todos os tipos, voluntários ou não, geralmente captadas pela visão que irá identificar de onde se percebem as características identificadas pelos outros sentidos.
    Através da audição realmente escutar como as pessoas falam e produzem seus sons com base em altura, timbre, intensidade, duração, melodia, harmonia e ritmo. A harmonia entre som no espaço e tempo, analisando comprimento altura e profundidade.
    O olfato e as fragrâncias: cítricos, florais, amadeirados, chipres, orientais, secos, frescos, picantes, frutados... as notas de cabeça, corpo e base.  Os aromas de seus acessórios, os odores do corpo e o perfume usado, a combinação e formação de identidade e personalidade.
    O tato e a aproximação mais íntima do toque, a percepção de calor, frio, texturas, localização espacial e características de dor e prazer. O que agrada, conforta, perturba.
    Pena não sentirmos o gosto das pessoas. Apenas podemos imaginar o sabor, com as dicas dos aromas e a imaginação de gosto. Sem esquecer que também podemos intuir a respeito de alguém. Pressentindo, além de criar as hipóteses com base destes conjuntos.
    Contudo, de nada vale sentir tudo isso se você não processar essas informações. Use o cérebro! Não use suas hipóteses como certezas. Hipóteses são suposições prováveis.
    Por isso geralmente acerto nos presentes. Sejam apenas sinceros  adjetivos ou surpresas bem individuais. Os pequenos detalhes fazem as grandes diferenças.

Kevin Rodhes - personagem do livro Terapia escrito por djpandacwb

terça-feira, 24 de abril de 2012

O PESOS DAS COISAS

O PESOS DAS COISAS
    Sempre escutei a história da balança e que deveríamos pesar os valores das coisas antes de tomar as decisões. Quer saber o que acho disso? Acho que é generalizado demais,
    As pessoas acham que devemos pesar os valores das coisas, mas se as coisas são subjetivas? Sim, é claro que temos alguns critérios objetivos. Mas muitas das decisões, das quais tomamos partido, dizem respeito aos aspectos individuais.
    Não digo que não se possa pesar sentimentos, acredito que sim. O que tento dizer é que o peso que posso dar provavelmente será diferente do peso que você pode dar.
    Uma música que demonstra esse tipo de subjetividade é leva o mesmo nome dessa passagem: O Peso das Coisas – Pato Fu, adoro a frase: “Aos domingos não te vejo, o mundo é ruim.“
    Uma decisão boa para você, pode não ser uma decisão boa para mim, mesmo estando num mesmo contexto. Nossos desejos, medos, paixões, gostos, serão diferentes. Enfim, as opiniões são diferentes. Por isso gosto de escutar pontos de vistas. Não peso apenas os valores.
    Não creio em pensar de forma errada. Sou da opinião que a pessoa que diz que pensou de forma errada na verdade é um inconseqüente.
    As pessoas assumem riscos, pagam para ver.
    Decisões são baseadas em: experiências, instinto e razão. Dificilmente tomará uma boa decisão baseada exclusivamente na emoção.
    Quando escuto pesar as coisas, imagino que as ações devem ser ponderadas em contraponto com as conseqüências. Não apenas analisar fatos,  com base nos argumentos e informações, mas em que a decisão pode influenciar e quais conseqüências essas decisões podem gerar. Assumir riscos e prevê-los com base em: experiências, instinto e razão.
    O certo e o errado são relativos, analise se os riscos valem a pena e não tenha medo de decidir. Questione suas respostas, pois posso ter acabado de mudar de idéia.

Kevin Rodhes - personagem do livro Terapia escrito por djpandacwb

segunda-feira, 23 de abril de 2012

APELIDOS

APELIDOS
    Tive uma ex-namorada que me chamava de bebê, apenas de bebê. Com todas as caras, bocas, vozes de alguém que está falando com uma criança com problemas de entendimento ou aprendizado. Acho que isso foi uma das coisas que fiquei traumatizou em alguns relacionamentos.
    Por mais bizarro que pareça, reencontrei uma amiga que, muito antes, desde sempre, me chamou de baby, babe, bebê e suas variantes, com caras, bocas e vozes de alguém que está falando com uma criança que vai respondê-la a qualquer momento e quem sabe sorrir. Era algo mais, genérico e chegava a ser uma mania dela em classificar os amigos, uma espécie de graduação militar, uma patente designando o seu estado para com ela. Sinto-me honrado por ser um de seus bebês e ainda nos tratamos por esse apelido.
    Acho que a memória é assim, associativa às nossas lembranças.  Os apelidos geralmente são relacionados com manias ou características.  Sejam as manias de quem dá, ou de quem recebe. As características podem ser em falta ou em excesso do receptor.
    Existem apelidos de redução do nome, ou um nome diferente freqüentemente usado. Devo esclarecer que apelido em português brasileiro é sinônimo de alcunha, apodo, antonomásia, cognome e epíteto. Sem esquecer os pseudônimos, nomes artísticos e hipocorísticos adotados.
     Não sou um bebê! Vá! Chame-me por meu nome. Não se obrigue a dar apelidos. Não force as coisas. Não domine ou denomine. Meu nome!  Simplesmente, meu nome!
    Nome vai continuar sendo o velho substantivo masculino que designa pessoal, animal ou coisa, será sempre a denominação de algo ou alguém. Não os substituirei por pronomes, recordando: “tias” e “tios”, “professores” e “mestres” de línguas. De inúmeras lembranças e adjetivos.    Não soltarei o verbo, nem escreverei artigos.  Da classificação variável restou apenas o numeral. Invariáveis: advérbios, preposições, conjunções, interjeições. Ao longe e sem dúvidas - um suspiro. Oh! As dez classes morfológicas lembradas por um apelido.
    E os bebês continuam a nascer e eu sem choro agüentei. Esse apelido que me enojava quando proferido por minha ex. Por bem, meu relacionamento amoroso com ela se foi.  O apelido por outra ficou, minha amizade continua intacta, aguardando notícias de minha oficial superior. Sempre às ordens, sempre um de seus bebês.
    Fato curioso, essa minha amiga é atriz, comunicadora e jornalista. Muito antes da ídola Cristiane Torloni, em entrevista dada ao canal Multishow. Já me dizia como lema:
    -Hoje é dia de rock, bebê!

Kevin Rodhes - personagem do livro Terapia escrito por djpandacwb

sexta-feira, 20 de abril de 2012

AS PESSOAS NÃO MUDAM?

AS PESSOAS NÃO MUDAM?
    Ok, eu aprendi assistindo diversas temporadas da série House M.D., que as pessoas não mudam e vi alguns poucos episódios que demonstram que podem mudar sim (inclusive o nosso querido Dr. Gregory House).
    A Teoria da Relatividade será absoluta? Tá, sem piadas nerds. Vamos  aos fatos. E o fato é que as pessoas mudam apenas quando realmente desejam. A inércia faz com que permaneçamos na mesma por longos períodos e num piscar de olhos, mudamos nosso pensamento e resolvemos mudar nossos sonhos, mudar nossos desejos, mudar como pensamos.
    Espere, também não é assim. Comigo as mudanças ocorreram após situações traumáticas. Pode ser o término de um relacionamento (geralmente quando terminaram comigo), o término de uma fase na vida e início de outra,  (alguma aprovação, final da faculdade, escolha de pós, mortes, casamentos,  batizados, debutes). A vida é cheia de rituais de passagem.
    Por isso a importância sociológica de “festejarmos” tais eventos. Para alguns basta um aniversário, para outros bastam uns 30 aniversários e tem também os irremediáveis.
    Não que seja ruim ser um irremediável. A vida apresenta vários obstáculos.  Cada um supera como quer e convive com seu reflexo no espelho.
    Às vezes a mentira é o que cega o reflexo. Conheci principalmente garotas que diziam que mudavam, prometiam não mais errar, que decidiriam por si mesmas e no fim a primeira coisa que queriam era uma terceira opinião.
    Nada contra a essas decisões, mas acho que depois de um tempo deixam de ser um charme e passam a ser um saco. Fingir que sabe o que se quer ou não quer, deixar a espera e achar que foi surpreendida.
    Concorde comigo que dizer para si mesmo nem sempre torna a vida mais fácil por concordar cegamente que você mudou.
    Afinal o que é mudança? Eu vejo mudanças numa pessoa quando ela deixa de ser previsível em suas respostas, quando sua realidade mudou, quando sinto uma opinião nova formada e fundamentada.
    Confiar no instinto para o futuro de uma relação? Eu acho arriscado, mas devemos nos dar chances, não apenas dar chances. O relacionamento envolve no mínimo duas pessoas.
    Não é a toa que comecei minha terapia, quero voltar a viver tranquilamente com Jacque. Abrir mão de muita coisa, mas sei que ela abriu também. Ponderamos nossas escolhas e um dia decidimos sermos felizes juntos.
    Quem já viveu uma vida egoísta deve saber que pensar em um relacionamento de verdade muda muito nosso mundo. Uma coisa é sonhar, desejar o tipo de vida a dois e constituir família, outra é encontrar alguém que vira seu mundo removendo suas referências direcionais com uma serra elétrica, efetuando cortes irracionais e mutilando o que você considerava a vida perfeita.
    Mudamos, não muito, apenas o suficiente. O suficiente para largarmos egoísmos, manias, vícios. Mudamos não para tornar nossas vidas em conjunto  suportáveis. Mudamos para nos tornarmos suportáveis a vida em conjunto. 

Kevin Rodhes - personagem do livro Terapia escrito por djpandacwb

quinta-feira, 19 de abril de 2012

WINGMAN

WINGMAN
    Não sei se todos já ouviram falar na expressão wingman, ela nasceu com o filme Top Gun (1986) e tem origem no termo militar que definia um colega piloto de que apoiava outro piloto num ambiente perigoso de vôo, um parceiro que nunca irá abandoná-lo, independentemente do nível da situação.
    Hoje o termo é usado para um parceiro de balada que auxilia um amigo numa conquista amorosa, um suporte para sonhos e realizações.
    Existem ótimos e péssimos tipos de wingman, alguns com ótimas intenções e muitas vezes nos trazem efeitos desastrosos. Vou citar alguns deles, muitas vezes encontrados na mesma pessoa, não importando o sexo ou opção sexual.
    Agente-infiltrado: disposto a infiltra-se solitariamente em terreno desconhecido e trazer informações sobre estado civil das pessoas, tendências sexuais, interesses intelectuais e pontos altos e baixos. Sempre tem um bom papo e simpatia. Geralmente pessoa calma que tem facilidade em abordar pessoas com diversos assuntos.
    Assessor: observador ao detalhes, nunca deixa o amigo na mão deixando-o sempre apresentável. Verifica manchas nas roupas, marcas de batom deixadas de modo inoportuno. Sabe quando o amigo está intoxicado demais e cuida para que não passem dos limites. Cuida pelo bem estar e facilita os detalhes de conforto e bem estar geral.
    Batedor: explorador que vai reconhecendo o ambiente e diz como agir após analisar os envolvidos. Como um caçador experiente, te dá dicas de como prosseguir e muda sua postura ao encontrar diferentes tipos de presa, agindo do modo que for mais conveniente, inclusive dizendo qual o melhor momento de mudar a estratégia ou até desistir.
    Destemido: algumas vezes por loucura, outras por coragem o destemido não se importa em ter que ser o primeiro a abordar uma mesa de garotas. Elas podem tentar ferir seu ego e destruí-lo, mental ou moralmente. Ele vai abrir o caminho para seus companheiros, onde já suavizou as defesas para conseguirem mais sucesso no ataque.
    Empático: tem pessoas que simplesmente sabem ler seus pensamentos, ou possuem grande facilidade de entender o que quer com linguagem corporal, sinais ou códigos. Este tipo deve ser rápido na reação e geralmente sabem exatamente o que devem fazer. Suas decisões são tomadas sempre em conjunto.
    Informante: de alguma maneira estranha apesar de ele não ser popular, sempre tem informação sobre aquela pessoa de interesse. Já conheceu numa festa, conhece algum parente, identifica alguém que conhece alguém e sempre tem alguma informação para ajudar. Conhecido também como assessor de assuntos aleatórios.
    Narrador: sabe as boas histórias que temos? O narrador sabe, e como um bardo, sabe encantar as pessoas romantizando suavemente as suas histórias. Ele sempre levanta sua moral, arruma as gafes dos outros quando tiram sarro ou te desmoralizam. O narrador sempre sabe o tempo certo para contar uma boa história.
    Popular: é o cara que geralmente é reconhecido pelas pessoas e torna-se um chamariz para as pessoas se aproximarem do grupo e não o contrário. Conhece diversos tipos de pessoas e cada encontro é uma surpresa.
    Soldado: entende a sua missão, ao avistar duas garotas solteiras, se aproxima de uma e mantém ocupada para dar chances para que seu amigo consiga conquistar a outra garota sem entraves ocasionados pela amiga. A missão só termina com o objetivo alcançado.
    Zagueiro: sempre protege o território, nunca permitindo que inimigos se aproximem, até que sejam atingidos os objetivos. É comum que sejam caras fortes ou extremamente descontraídos. Intimidando física ou mentalmente seus adversários.
    Tenho a sorte e o azar algumas vezes de conviver com vários destes estereótipos e devo alguns sucessos a esses tipos. Sempre tento lembrar dessas qualidades para tentar ajudar amigos ou amigas.
    Lembrando sempre que tanto a falta quanto o exagero dessas características podem prejudicar muito no resultado final de uma conquista, seja qual for seu objetivo final. Com certeza poderá identificar muitos deles principalmente durante as noites solitárias e fica para uma próxima algumas das histórias que tenho para contar.
    Amigos são sempre amigos: o local, a bebida e a música são acessórios. Escolha-os bem, diga-me com quem andas e eu direi se vou contigo.

Kevin Rodhes - personagem do livro Terapia escrito por djpandacwb

quarta-feira, 18 de abril de 2012

COMUNICAÇÃO

COMUNICAÇÃO
    Comunicar-se com primazia é tarefa trabalhosa. Saber transmitir idéias e  expressar emoções não é para qualquer pessoa. Sei que os estudos, técnicas e experiências de vida auxiliam nessa missão que enfrentamos na nossa rotina diária.
    O ser humano é um ser social que precisa de companhia e expressar o que sente.  Recordo-me do episódio piloto de Além da Imaginação – cujo o nome original é "The Twilight Zone" Where Is Everybody? Apesar de ser lançado em 2 de outubro de 1959, até hoje ao assistir me dá uma sensação de agonia causada pela solidão, mesmo senda produzida com efeitos especiais onde analisando com olhos críticos se observa a utilização de miniaturas que  dão a mesma sensação que o personagem icônico dos quadrinhos causam dando identificação da ilusão em realidade – muito bem explicada por Scott McCloud em Desvendando os Quadrinhos. Sente-se também a tensão produzida pela trilha sonora. Podemos observar momentos cinematográficos derivados, onde por exemplo, pode-se sentir a mesma tensão no início do filme Day of the Dead (1985) de George Romero, que depois foi sampleada e utilizada na música M1-A1 do Gorillaz.
    A comunicação não somente por palavras ditas e escritas. Por palavras expressas, interpretadas e gesticuladas. A comunicação por qualquer forma de expressão é transmissão auxiliada por pequenos grandes detalhes que fazem muita diferença.
    Não devemos esquecer que a comunicação deve se dar entre o transmissor e o receptor da informação, e que ambos devem encontrar uma sintonia para o entendimento. Quanto maior essa sintonia, melhor será recebida a transmissão.
    Analisamos agora que a comunicação deixa de ser trabalho solitário para ser ato conjunto. Agora podemos pensar e quando existe mais de um comunicador e mais de um receptor?
    Bom, daí posso garantir que nascem belas histórias e estranhos diálogos.
    Podem existir tecnologias que facilitam a comunicação, através de dados, bytes e tons. Existem mensagens mais pessoais através de bites, olhares e suspiros.
    Não sabemos como nos comunicamos na vida digital, e usamos artimanhas e charmes que nunca sonhamos na vida real.
    As pessoas nunca se perguntam como funciona uma televisão ou um computador. São sempre objetos mágicos que nos trazem o que queremos, e então porque não deixar usar a mágica em cada expressão?
    Ok, eu sei como funciona uma televisão ou um computador, mas porque não acreditar em mágica? Afinal, nunca se sabe quem irá receber a mensagem do jeito que você quis dizer, muito menos quem irá entender.
    O importante é lembrar que comunicação é antes de tudo é a AÇÃO de se COMUNICAR.
    Então comece a agir para se fazer entender, usando as ferramentas que possui sem medo de tentar.

Kevin Rodhes - personagem do livro Terapia escrito por djpandacwb

terça-feira, 17 de abril de 2012

EQUAÇÃO DA FRUSTRAÇÃO ADQUIRIDA

EQUAÇÃO DA FRUSTRAÇÃO ADQUIRIDA
    Numa noite conversava com uma amiga que não encontrava pessoalmente recentemente e me trouxeram lembranças tímidas e receosas da adolescência, de um garoto sem jeito e inseguro. Aprendi nos olhares e nos filmes como viver. Testava a magia do cinema em meu dia-a-dia e nem sempre era como imaginava.
    Cada segundo da película era uma memória desagradável para meu teste real e as mudanças eram inevitáveis para finais quase felizes. Da comédia e do drama vem meu estilo que sorrateiramente rouba o charme de ídolos. Não sou nada de mais, mas a agilidade de respostas sem dúvidas é uma ferramenta incrível.
    Adoro também as antigas séries de tv - não todas – as minhas favoritas: Star Trek (1966–1969), Batman (1966–1968) e The Twilight Zone (1959–1964). Acompanhá-las me ensinou muito sobre design gráfico, fotografia, edição de imagens, cinema e roteiros.
    Possivelmente, influenciado por essas séries de ficção científica, adquiri uma mania por desenvolver equações e teorias.
    Voltando a conversa “viagem no tempo”, andávamos muito juntos, conversamos sobre artes marciais. Eu defendendo as técnicas aprendidas com o aikidô e o kung fu, ela adepta e praticante do karatê e do muay thai. Ambos respeitando idéias novas e nos inspirando em nossos projetos.
    Discutíamos musica, eu com os novos sons eletrônicos do final dos anos noventa e com minhas bandas de pop rock nacionais e ela sempre com um reggae de qualidade.
    Nossas conversas sempre regadas a cerveja, que aprendi a tomar com nossa turma. Ela se divertia muito em nossas festas animadas e eu sempre com seu apoio.
    Nos distanciamos pelas razões de sempre: tempo, relacionamentos complicados, distância e caminhos.
    Nos reaproximamos graças as redes sociais. SIM, a tecnologia usada para o bem. Odeio quando as redes sociais são utilizadas para afastar as pessoas. As redes sociais são ferramentas de mobilização e aproximação de ações, pessoas, idéias e quem sabe um dia, apenas informações úteis.
    Desse novo contato, chegam informações sobre trabalho, sonhos e relacionamentos vivenciados.
    Desta conversa surge a conclusão sobre a frustração adquirida que foi equacionada da seguinte maneira:
    Equação da frustração adquirida seria igual à inspiração proporcionada pela solidão, mantida a mesma loucura adolescente, com um pouco menos de paixão, definitivamente mais desiludido e sempre sonhador.
    Apenas os sonhadores se frustram. Apenas a loucura alimenta os sonhos. Dessa alimentação dos sonhos vem inspiração que já está acrescida da solidão, diminui a paixão que por sua vez desilude o sonhador.
    Viver com essa equação te dá a certeza de não querer alguém que te complete, pois já somos completos.
    Essa equação nos aproxima de pessoas que são compatíveis com nossos desejos e que de um modo incrível sejam suficientes para nos fazer querer crescer e mudar. Resumo isso em planejar em conjunto.

Kevin Rodhes - personagem do livro Terapia escrito por djpandacwb

segunda-feira, 16 de abril de 2012

SINDICATOS NOTURNOS

SINDICATOS NOTURNOS
    A noite sempre foi meu lar. Uma casa de desabafos, interações, surpresas e emoções. Compartilhar momentos com estranhos que depois marcam nossas vidas. Dar chances ao destino.
    Em especial a noite curitibana sempre foi um desafio para desbravadores.
    Sou publicitário, estudei o curso técnico de desenho industrial, sou libra com ascendente em peixes, galo no horóscopo chinês. Um cara equilibrado e com um toque de artista. Adoro sentir as palavras explodindo na mente, sonorizadas expressando emoções. Junto aos sons, músicas, imagens e vídeos.  A multimídia é sempre um mundo de infinitas possibilidades e criações e destruições.
    Alguns me chamam de manipulador de informações (um spin doctor), outros preferem dizer que eu realmente sei como vender um bom produto. Sim, o produto deve ser bom. Não aceito vincular meu nome a qualquer quinquilharia, não engano meu público. Explicito qualidades e maquilho transformando o normal em excepcional. Sempre sincero em minhas decisões, não gosto da mentira, ocultar muitas vezes é mentir.
    Todavia, mesmo acreditando ser um bom comunicador, sempre tive dificuldades em adentrar em turmas do cenário noturno curitibano. Alguns bons contatos sempre facilitaram a entrada.
    Tornar-se um cruzado solitário em terras desconhecidas, Muitas vezes desconhecidas por abandonar meus hábitos noturnos devido a relacionamentos. Cruzado solitário por gostar de sair sozinho, sem travas, sem ajuda. Sair sozinho sempre aumentou minha auto-estima. São poucos os bons parceiros de balada e depois que se conhece bem um lugar, até os funcionários se tornam bons parceiros. Ah, lembra dos dois telefones errados que ganhei? Um deles foi de uma barmaid, conto essa história outra hora.
    Sendo uma pessoa eclética, freqüentei vários tipos de casas noturnas.  Meus locais favoritos eram clubs, locais alternativos e pubs com música ao vivo.
    Em locais alternativos, muitas vezes recebi cantadas de homens, mas sempre de maneira educada. Nunca tive problemas e sempre muito bem recebido. Minha mãe sempre ficava preocupada com meu encontro com algum conhecido nestes locais. (Eu respondia: - Mãe, se alguém me encontrar lá dentro é porque também estava lá. – provavelmente outra pessoa sem preconceitos)
    Nos clubs geralmente me aproximava das pessoas que amam dançar. Conversávamos pouco e dançávamos muito.
    E nos pubs senti sempre uma maior dificuldade para me aproximar. As pessoas pareciam ser mais desconfiadas, menos atraentes nas conversar e muito desinteressados em qualquer coisa nova.
    Na minha adolescência, fui clubber uma geração que ajudou na popularização dos piercings (tive 3, 1 na sobrancelha e 2 na orelha, todos do lado  esquerdo). Usava roupas leves e confortáveis, não pelas marcas, mas pelo simples conforto.
    Umas das coisas que os clubbers tinham, era aceitar todos os tipos de tribos e vestimentas.
    Talvez por sermos fruto do início da geração Y, pelo menos eu sempre fui um artista, com os desenhos, com as palavras, com as músicas e com os vídeos. Gosto de respostas rápidas, pessoas sagazes e multi-tarefas. Entediam-me as pessoas que são sempre as mesmas, tenho várias turmas, e cada qual com seus motivos particulares. Me considero uma pessoa bem quista, educada e que consegue conviver com as diferenças muito bem. Minha tranqüilidade e segurança me permitem trafegar pelos os mais diversos lugares sem que me incomode com roupas ou estilos. Sempre me considerei “neutro”.
    Recordo-me de uma festa rave onde me estava vestido de terno e gravata, usando sapatos sociais, por emendar de uma aula noturna após o estágio. (Não foi uma experiência muito agradável ter que me vestir arrumadinho numa agência de publicidade, algo me diz que os trajes prendiam a imaginação que acarretou posteriormente no encerramento das atividades empresariais pelos donos).
    Voltando a história da rave, acho que a tribo me fascinou por não me julgar pelos trajes, por gostarmos do mesmo tipo de música e serem tão receptivos. Ser alternativo naquela época, era não ligar para os panos que as pessoas usavam.
    Com os anos, me distanciei um pouco dos meus amigos, que deixavam as cores chamativas dos clubbers de lado e que em sua maioria continuavam a se destacar por suas personalidades únicas, tornando-se mais excêntricos e exigentes.  Suas novas turmas eram mais fechadas e restritas.
    Comecei a reavaliar os novos locais que começava a freqüentar 10 anos após meu início no mundo clubber, eu também mudava, meus som como DJ deixava de ser o house comercial e o drum`n bass, para se tornar 80`s, 90`s e indie rock. A vida noturna deixava de ser minha segunda casa e se transformara em um Sindicato, não generalizado, mas agregando principalmente pessoas com mesmos interesses artísticos e ainda alguns Fashion victims. Encontrei amigos que partilham dessa opinião.
    Confesso que também mudei, cabelos com mechas azuis e prateadas não faziam mais o meu estilo. Minhas roupas são mais adaptadas para freqüentar qualquer lugar e que hoje também faço parte de vários sindicatos.
    Não sei se mais exigentes apenas, ou mais cautelosos. Sei que me adaptei.
    Parafraseando um grande amigo. – Antes eu tinha sonhos mirabolantes ao usar minha imaginação, talvez me tornar um cientista louco ou um super-herói.  Nunca quis ser um cruzado solitário.
    Hoje tenho desejos bem realistas. QUERO SER UM NINJA!

Kevin Rodhes - personagem do livro Terapia escrito por djpandacwb

domingo, 15 de abril de 2012

DESAPEGOS


DESAPEGOS
    Uma estrada definida? Não tenho crença em Deus. Prefiro que meu destino seja rascunhado, com linhas finas e que a obra final me surpreenda. Tenho potenciais futuros que adoro estragar tomando decisões pouco óbvias, prefiro um desastre divertido à uma previsão monótona. Brinco de senhor do meu destino, mas sinto que livre arbítrio, é sim, uma falsa ilusão de liberdade.
    Nessa crença os carneiros no pasto acreditam ser livres. Eu acredito que escolher todos os caminhos seja a real liberdade. Hipócrita? Um pouco... Arrogante, não seria um insulto.
    Isso não significa que eu seja mau, pelo contrário. Respeito a opinião de todos e tenho para mim que religião não forma caráter, mas que pode sim dar um bom norte, como causar danos irreparáveis numa personalidade.
    Sim, tive uma boa educação cristã, quanto a ser um seguidor de Cristo ou filho de Deus. Prefiro pensar no acaso, nas coincidências da vida. Prefiro ser insignificante ao me preocupar com pensamentos que não cabem em mim. Não tenho fé, não duvido que exista. Apenas me considero incapaz. Uma cabra em meio às ovelhas, como diz a música: “Now I just want to play on my panpipes/I just want to drink me some wine/As soon as you're born you start dyin'/So you might as well have a good time/Sheep go to heaven/Goats go to hell” (Sheep Go To Heaven – Cake)
    Acredito nos astros e no tarô, prefiro o tarô de Marselha, mas gosto do cigano ou o egípcio, a astrologia. O caminho das estrelas me atraiu sempre, nunca gostei do Sol, a Lua e as estrelas sempre me seduziram. Como uma série de aventuras amorosas, inúmeras e quem sabe um dia, encontrar meu astro maior. Talvez encontre minha Lua, mas tive que lembrar das estrelas para me dedicar de verdade a alguém.
    No meu caminho encontrei pessoas inesquecíveis. Vivi momentos únicos e como um telespectador, diria que minha vida daria uma ótima ficção. Nestes encontros, mais difícil que encontrar um sentimento, mais difícil que conquistar uma relação, às vezes o mais complicado foi superar e deixar o que não funciona mais.
    Dar chances, voltar e perdoar. Insistir em escolhas, supor e idolatrar uma idéia. As ilusões da paixão.
    Quando mudamos, tentamos, nos esforçamos. As coisas nem sempre não funcionam devido aos nossos problemas.
    Sou uma pessoa persistente. Luto de olhos abertos e sem mentir para mim. Mas em relacionamentos, escuto, converso e discuto. A batalha que se trava entre amigos, amantes e irmão são as mais barulhentas e dolorosas e tendem a ser as mais honestas.
    Não tenho medo de interpretações ruins, sou passível de erros. Alguns imperdoáveis, porém dormir tranqüilo é uma meta todas as noites.
    Então acordamos em meio de uma relação complicada e temos que dar um ponto final. Não por falta de coragem, não por falta de esforço. Termina-se uma história por ela não funcionar. Por ser apenas uma ilusão, um reflexo de nossos desejos que nunca se torna uma realidade suportável.
    Desapegar-se, perder a afeição que se tinha antes, soltar-se, desgarrar-se. Desapego não porque não valeu viver, não pelo que passou. Ao reverso, pela chance de errar novamente e eventualmente acertar. Não insista pedindo chances. Permita-se viver novas experiências sem machucar alguém e sem se machucar.
    Respeito. Respeite.
    Pontos finais não viram reticências.

Kevin Rodhes - personagem do livro Terapia escrito por djpandacwb

sexta-feira, 13 de abril de 2012

UM CARA DIVERTIDO

UM CARA DIVERTIDO
    Quando namorei Patrícia foi uma experiência interessante. Após passar um ano tendo as melhores e piores experiências da minha vida, tinha encontrado uma garota que parecia valer a pena.
    Naquele ano estava numa fase de aproveitar a vida, ou apenas me deixar levar. Tinha um estilo legal, mas ainda não era um “Win Lord” (um vencedor no jogo da conquista). Minhas amigas diziam que eu estava mais para um “wannabe galinha” (um cara que se fazia de pegador). Mas no fundo continuava ser o mesmo romântico casualmente rápido na pegada, com frases nocauteantes e algumas vezes entediantes discursos que me deixavam falar com as paredes.
    Talvez um pouco confiante nuns dias, desesperado em outros, mas um pouco largado e preguiçoso.
    Nos conhecemos alguns anos antes, numa reunião de amigos - um churrasco com muita bebida, onde nos perdemos em braços diferentes. Ela tinha uma conversa legal. Não se apresentava timidamente. Personalidade forte com opiniões fundamentadas.
    Garota batalhadora, esforçada em alguns momentos. Tinha uma relação de amor e ódio com a família. Acredito que grande parte pelo negócio familiar em que trabalhavam.
    Paty era uma “gamer girl”, viciada em jogos de computador e videogames.  Seu conhecimento “nerds” era vasto. Gostava de Marion Zimmer Bradley, Bernard Cornwell, Anne Rice, George R. R. Martin, mas não gostava de Douglas Adams.
    Dizia que eu deveria conhecer melhor Neil Gaiman, e não era a primeira pessoa que me recomendava. Na verdade, conhecia pouco, ainda conheço pouco. Uma linda garota gótica me indicou ler mais e sua irmã insistiu. Outras duas amigas com gostos parecidos com o meu também recomendaram. Mas destas garotas falo em outra história.
    Tinha uma opinião forte sobre Star Wars. Era do tipo que dizia que no lado negro da força eles têm cookies. Uma das nossas grandes brigas. Sim, eu sou um Trekker. Vida longa e próspera é um lema em minha vida. Mas nunca fui daqueles que odiava Star Wars, apenas gostava mais de teletransporte, comunicadores, raios phasers e o toque vulcano quando comparado com as os sabres de luz, o uso da força e ter que tomar um partido na guerra.
    Acho que meu fascínio com a comunicação sempre esteve em minhas veias. Desde criança passava horas num telefone. Na minha infância foram inventados os celulares. Os aparelhos mágicos que me conectavam a qualquer pessoa que tinha um telefone.
    Aos quinze anos um aparelho celular foi o primeiro presente que me dei de verdade, aos doze anotava o telefone das meninas numa agenda de bolso, e sempre tinha uma caneta comigo, aos treze tinha comprado uma agenda eletrônica que já havia lotado de telefones, aos catorze, eu tinha uma calculadora HP 48G que também estava lotada com dados dos meus colegas e aos quinze o primeiro celular. Geralmente esses aparelhos tinham uma capacidade para 100 até 200 números de telefone. Sempre conseguia extrapolar, não foi diferente com o novo telefone.
    Não que eu fosse um cara que pegava vários telefones das meninas. Isso tudo era conseqüência de desde cedo ter sido representante de turma, feito alguns trabalhos voluntários e como um dos pouco que possuía um telefone móvel, era um ponto de referência.
    Mas lembro que minha adolescência foi marcada por uma série de conquistas de números de telefone, e apenas 2 vezes os números foram errados. Dois grandes traumas que contarei outra hora. Poucos os sucessos em ligar após pegar o telefone. O tempo passava rápido demais.
    Paty era desprendida, uma personificação de seus longos cabelos negros e lisos que brilhavam que destacavam sua pele pálida. Não possuía telefone celular, odiava o sentimento de ser observada. Era uma garota segura quanto a nossa relação e seu maior mérito era a confiança.
    Nos reencontramos numa casa noturna, ela estava acompanhada de um amigo e eu estava matando saudades de Léa um tempo antes num barzinho onde bebi várias cachaças artesanais aromatizadas.
    Avistei Paty na fila, nos abraçamos para nos proteger do vento gelado.
    Ela tinha covinhas no rosto e nas costas, seu abraço e suas mãos em meu peito criavam algum tipo de lembrança que passava um sentimento misto de proteção e carinho imenso. Horas de conversas para atualizar o papo e beijos no rosto na despedida.
    Ficamos depois de um cinema, após assistir todo filme, pode ser pouco romântico, mas como cinéfilos, era uma atitude óbvia.
    Ela respeitava minhas sessões de RPG e minhas idas aos bares. SIM, sou o tipo de nerds social. Consigo compatibilizar vida amorosa, social e ainda reservo tempo para ter hobbies. E acho que isso era um dos motivos para nossa relação começar. Dar uma chance para os outros é difícil, mas quando as pessoas dão a chance para você, eu não costumo hesitar.
    A vida na cama era excelente, porém tempo passou e a relação esfriou,  por mais perfeita que fosse ainda faltava algo.
    Talvez dessa vez eu tivesse encontrado alguém mais nerds que eu.  Talvez ela precisasse da minha companhia para seus jogos.
    Não, eu tinha me tornado o cara divertido. O cara divertido do bar, o cara divertido na cama. Um palhaço, um comediante stand up, um bobo da corte que improvisava em qualquer platéia.
    Vi que aos poucos ela me afastava de sua rotina, de seu dia-a-dia.
Descobrir que divertido pode ser conveniente, mas não suficiente.

Kevin Rodhes - personagem do livro Terapia escrito por djpandacwb

quinta-feira, 12 de abril de 2012

TEORIA DO SUNDAY

TEORIA DO SUNDAY
    A Sorveteria do Gaúcho é um dos meus pontos favoritos de Curitiba. Todas as vezes que freqüento o lugar, escuto em minha mente “A Bar bar bar bar Barbar Ann” uma música dos The Beach Boys - Barbara Ann. Não sei a razão da música invadir minha imaginação, mas começo a gostar da música depois de tudo que vivemos.
    Acho que as pessoas reunidas, algumas para andar de skate, outras passeando de bike e ainda os visitantes do cemitério em conjunto com a arquitetura, criam um clima nostálgico.
    Ok, apenas o sorvete artesanal seria motivo suficiente com sabores gravados na minha memória gustativa e colorindo meus dias nublados.
    O mais interessante é que lá surgiu a Teoria do Sunday.
    Estava num dia ensolarado conversando com Vera, uma amiga que sempre gostava de minha companhia, acredito que em razão dela estar num relacionamento durante anos, nunca tinha rolado um clima entre nós. Fato que só descobri naquela tarde. Passaram-se dois anos da nossa última conversa.
    Ela tinha retornado de viagem e me enviou uma mensagem. Queria sair em busca da sua Curitiba, com seus lugares e amigos. Acabamos indo tomar um sorvete.
    Nunca tínhamos conversado sobre relacionamentos antes. Nossos papos sempre giravam em torno de viagens e aventuras. Naquela tarde resolves nos abrir mais. Ela comenta que não estava preparada para ter um novo relacionamento. Que o sentimento que sentiu e a cumplicidade que teve em seu último relacionamento dificilmente seriam esquecidos.
    Perguntei como tinha acabado. Ela me responde que seu noivo tinha falecido no último ano. Ainda com a expressão de viúva, em seu olhar carinho e saudades.
    É uma coisa difícil de se analisar realmente. Tentar abrir a cabeça de alguém que busca por um novo relacionamento, mas ainda está fechada para balanço. Nunca fui defensor da teoria do esquecimento, aquela que sempre diz para esquecermos tudo que passou. Sempre achei que devemos valorizar as pessoas e momentos que vivemos, aprender, superar e viver o próximo instante.
    Vera foi até o balcão, pedir seu sorvete de iogurte, com um olhar agora infantil e otimista. Quando vi o rosto de Vera, lembrei-me de meu avô que sempre dizia que um doce podia melhorar nossos dias. Verdade mais sincera não poderia escutar.
    E com base nisso tudo foi criada a Teoria do Sunday.
    Quando Vera retornou, perguntei qual era seu sorvete favorito. Ela me confessou que era o que estava tomando.  Depois perguntei qual o milkshake favorito. Ela me disse que era o de ovomaltine do Bob`s.
    Eu falei que os relacionamentos eram assim.
    Ela me questionou indignada.
    Expliquei que não podemos comparar os tipos de relacionamentos, e os tipos de pessoas. Afinal, tem momentos que buscamos um tipo de coisa e experimentamos várias maneiras de conseguir isso.
    O amor para Vera era um sorvete e ficar com alguém um milkshake. Seu falecido noivo seria um sorvete de iogurte da Sorveteria do Gaúcho, porém sua sorveteria não existia mais.
    Mas existem tantas outras sorveterias, e tantos outros sabores. Algumas vezes o melhor do lugar nem é o sorvete, muitas vezes pode ser um milkshake, uma banana split ou quem sabe apenas o lugar.
    Vera estava rindo da minha teoria, me chamando de bobo com o mesmo sorriso de criança saboreando o doce.
    Eu pensando comigo, que doce ela estaria saboreando e qual seria o seu sabor.
    Ela me pergunta: -Então, o que você seria? Um sorvete, um milkshake, uma banana splip? (e ri da sua piada)
    -Um Sunday. Eu respondo com um olhar provocante.
    -Mas hoje não é domingo e não podemos ficar sem cerejas amanhã. Eu emendo sem hesitar.
    Ela sorri envergonhada e se vira, corre até o balcão e me traz seu sorvete preferido.
    -Quer experimentar? Ela me pergunta de forma audaciosa.
    Eu respondo de maneira inocente: -Só uma lambida.
    E caímos a gargalhar.
    Olhares se cruzam, e nos abraçamos.
    Hoje não é domingo, não é dia de Sunday, não desperdiçamos cerejas. Porém ambos provamos um doce. Cada um da sua maneira.

Kevin Rodhes - personagem do livro Terapia escrito por djpandacwb

quarta-feira, 11 de abril de 2012

MENSAGEM NA BORRA

MENSAGEM NA BORRA
    Ainda sinto o olhar de tédio que me apavora quando falo demais sobre mim, quando faço insinuações óbvias, quando a manipulação deixa de ser sutil e torna-se uma piada com o sorriso falso, da voz alterada que tenta esconder a verdade em forma de piada estilo comédia pastelão.
    Naquela noite Úrsula passava pela cidade, e marcamos de sair, combinamos de assistir Confraria da Costa, que estaria tocando no Blues Velvet Bar, uma banda que lembra músicas de piratas, desenhando no ar suas notas arrebatadoras com o acordeão e violino.
    Porém, não escutei as canções quando saí com Úrsula. Decidi que um café seria a melhor opção. Instinto, talvez memória perdida, escondida entre  meus pensamentos obsessivos. Café do Teatro, eu decidi.
    Sim, a obsessão, a idéia fixa, que deixa marcas. Não como o fogo que marca a pele, a idéia nos corrói, nos enlouquece.
    Pedi um irish coffee, ela um cappuccino gelado. Algo me alerta. - Não insista. - Eu insisti:
    - Experimente! (digo com sorridente)
    - Esqueceu que não bebo? (ela responde educadamente).
    Esqueceu o quê? Como assim, esqueceu? Esse é o tipo de atenção que se dá para alguém que você está interessado.
    O desenho das marcas de espuma de meu irish coffee parecem os desenhos sinistros de testes psicológicos.  Vejo rostos, vejo risadas, sinto-me acuado. Vejo corredores infinitos, com portas parecidas. Não quero abrir. Vejo Úrsula, vejo nua, vejo fria.
    Continua a observar os desenhos que meu coquetel forma. Por falar em coquetel, a origem da palavra é exatamente a sua tradução.  Do inglês cocktail, (cock,=galo) + (tail=rabo) = rabo-de-galo.  No Brasil, rabo-de-galo é uma bebida preparada com vermute e cachaça. Outra curiosidade é que os coquetéis foram inventados para amenizar sabores, ou como eu prefiro dizer degustar e saborear, ou seja, tirar a parte ruim do sabor ou enfatizá-la, ensaiar-se um novo sabor. Em minha crença, acredito que deve-se provar os sabores de modo separado. Imaginar a combinação e degustar o quase imprevisível.
    Voltando as imagens daquele irish coffee - cujo ouvi dizer que antigamente era feito de álcool de centeio com água quente servida para marinheiros – delirava em uma visão de Úrsula estática, como uma prostituta cansada e entediada.
    Cruzo um olhar e volto a realidade. Mas não um simples olhar. O olhar cruzado de ambos segurando o canudinho da bebida e sugando lentamente o líquido, esperando um novo assunto. O olhar acompanhando do quase silêncio constrangedor. O olhar que muda ao escutar que minha bebida havia acabado, fazendo aquele barulho irritante – o barulho que os gaúchos chamam de ronco do mate – que constrange mais que o olhar constrangedor.
    - Ok! Você está com fome? Pergunto com ar de disfarce. Péssima idéia, eu tinha acabado de fazer um ronco. Dãããã. – penso sorrindo de modo estranho e cerrando minhas sobrancelhas.
    - É, pode ser. Responde a garota com uma afirmação doce e um sorriso forçado.
    - O que você me recomenda? Ela pergunta interessada.
    - Eu recomendo um “ventre do minotauro”. (um sanduíche de queijo e mignon em cubos)  E penso em comentar que mignon é um termo que pode se referir a queridinho, ou preferido – e logo mudo de idéia, pois também pode se tratar de um termo um pouco homossexual – para o momento seria totalmente inconveniente. Ok, saíam pensamentos aleatórios, me deixem em paz.
    Úrsula me olha novamente com um sorriso pronto. Um sorriso pequeno, como ela, enigmático, como ela e decepcionado, como ela. E diz delicadamente.
    -Sou vegetariana, querido.
    Disfarço olhando para meu copo vazio. Leio novamente desenhos, agora formados pelos vestígios da bebida que deveria fazer efeito na minha corrente sanguínea e me transforma num cara interessante. Droga! eu penso. Não funcionou.
    - Garçom, por favor, dois queijos quentes com tomate e cebola, uma malzebier e uma dose de cachaça com anis.
    Ela me conta suas viagens, seus namoros, suas conquistas.
    Eu tomo meu trago e me delicio com a cerveja que tomo apenas quando estou acompanhado de pessoas que não bebem.  Dou atenção as palavras dela. Mas sei que elas se esconderão nos labirintos de minha mente e irão se misturar com as imagens formadas pelos restos da bebida.
    Não era uma mensagem numa garrafa, nem algum tipo de cafeomancia. Apenas uma mensagem numa borra. Lida por quem queria.

Kevin Rodhes - personagem do livro Terapia escrito por djpandacwb

terça-feira, 10 de abril de 2012

ANOS INCRÍVEIS

ANOS INCRÍVEIS
    Anos Incríveis (The Wonder Years) foi uma série de tv norte-americana que foi exibida de 1988 até 1993, pela ABC. Posteriormente foi dublada e retransmitida no Brasil através da TV Cultura.
    A história da série envolve questões sociais e fatos cotidianos vividas pelo protagonista, Kevin Arnold, que passa pela adolescência no final dos anos 60 e início dos anos 70 (sim, estou falado do século passado). A série tratava do dia-a-dia e como este era sentido pelos adolescentes. A maneira que  sentiam: a morte de parentes próximos, a separação dos pais, primeiro emprego, enfim temas rotineiros que tornavam interessante observar algumas mudanças e a relevância que davam a certos assuntos na época.
    Gwendolyn "Winnie" Cooper era o interesse amoroso de Kevin, pessoa por quem ele sofre a maior parte de sua infância e adolescência. Winnie sempre foi uma novela, de amor e ódio, de compreensão e cumplicidade. Lembro que sofri muito também, por algumas garotas. Mas a mais relevante da adolescência foi Vivian.
    Vivian sempre gostou de coisas diretas e emocionantes. Ariana, impulsiva e charmosa. Gostava de rock, usava calças rasgadas que realçavam as curvas em seu quadril. Quando possível usava camisas ou blusas de flanelas xadrez. Gostava de botas e vestidos. Muitas vezes quando desarrumada lembrava um estilo um pouco Grunge eu diria. Escutava: The Rolling Stones, Bon Jovi, Aerosmith, Led Zeppelin, U2, Nirvana, Pearl Jam, Hole, mas sua banda favorita sempre foi The Beatles.
    Isso me lembra que sempre me relacionei muito bem com as pessoas que gostavam dos Beatles. Apesar de serem considerados de certa forma unanimidades, como Legião Urbana no Brasil. Considero também o fato que se ama ou se odeia essas tais bandas. Outra conclusão que ouvi de uns amigos: Existem dois tipos de pessoas as que gostam de Oasis e as que gostam de Blur. Vivian adorava ambas as bandas, apesar de eu nunca ter sido muito fã da arrogância dos irmãos Gallagher que se consideravam os novos Beatles, ou seja, eu era dos que gostava de Blur (exatamente como meus amigos que chegaram a esta estranha conclusão).
    Vivian era poucos meses mais velha que eu, tinha já seus dezesseis anos. Cabelos curtos, escuros com mechas claras (poucas garotas dessa idade tinham cabelos curtos, na verdade, na época, ainda eram atribuído uma relação forte com do corte de cabelo com o lesbianismo). Possivelmente tenha sido Vivian que tornou minha tara por pescoços tão marcante com a sua pele clara e o mesmo carinho pelas crônicas vampirescas de Annie Rice.
    Ela vivia nos corredores do meu curso técnico em desenho industrial. Mas sempre a encontrava pelos bares com alguns veteranos de nosso curso. Algumas vezes de outros cursos. Poucas vezes só. Dizíamos que era formada em patiologia (o estudo do pátio do curso).
    A turma de amigas dela tinha hábitos estranhos, como apelidar as pessoas com marcas de bombons de chocolates. Era como se abrissem uma caixa de bombons sortidos e escolhessem primeiro o que mais gostavam e ordenando numa seqüência totalmente subjetiva o apelido do seguinte.
    Na teoria dos chocólatras existia chance para todos, pois nunca sobrava chocolate. Na falta dos chocolates, davam apelidos de frutas. Já sabiam naquela época que o excesso de doces podia fazer algum mal. E podiam considerar de algum modo as frutas mais saudáveis.
    Nunca consegui traçar uma linha lógica para esses apelidos e sempre agradeci por serem  sempre marcas e não tipos, sempre deixaram os meus queridos chocolates brancos e amargos em paz.
    Não sei se andava com essa turma por saber conversar ou simplesmente por ser um excelente ouvinte que nunca julgou as loucuras adolescentes. Ouvir as lamentações de brigas de famílias, a tristeza de incompreensão e falta de amor entre o infantil e o adulto. O medo do sexo e o atraso na menstruação, o uso de drogas legais e ilegais, discussões políticas como: a eleição de Fernando Henrique Cardoso, sucesso do plano Real, privatizações das Estatais e principalmente a greve dos professores.
    Em passeatas em defesa da greve dos professores, nos sentíamos como se estivéssemos em meio ao filme “O Que É Isso, Companheiro?” – que retrava a história do sequestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Burke Elbrick, em setembro de 1969, por grupos que lutavam contra a ditadura militar.
    Porém, quando estávamos apenas eu e Vivian, geralmente discutíamos nossos relacionamentos com as outras pessoas e de nossas dificuldades nos estudos ou ainda muito sobre poesia e livros. Passávamos muito tempo juntos, mas aos poucos ela me conquistava.
    Brincava comigo, pela minha expressão séria e carrancuda. Sempre criticando minhas idéias geniais e sonhando alto. Eu a repreendia reiteradamente: - Menos Vivian! - Menos Vivian!
    Adorava assistir as suas exibições com o violino e sempre trocávamos cartas. Quando em casa ficávamos horas no telefone. O assunto nunca acabava, e fazíamos questão de sempre demonstrar nosso afeto, usando insinuações e provocações.
    Foram seis longos meses para ultrapassar a barreira de amizade para conseguir roubar um beijo, dos lábios vermelhos de batom sabor morango. Apenas um beijo.
    Lembrado, esquecido, deixado de lado e sempre usado como arma. Ainda somos amigos e ela é professora de português e violino.
    Uma vez Vivian me ligou após ver fotos minhas numa rede social. Ela apenas disse: - Até que você melhorou bastante! Eu perguntei: - Então, você pegava? E ela me corta: - Já peguei!  (rimos infantilmente) .
    A conversa segue pergunto das aulas, do violino, da vida... Ela começa a me provocar, perguntando o que eu tinha mudado e tínhamos apenas vinte e seis anos.
    Na verdade muita coisa havia mudado já, mas ela continuava a dizer besteiras e até que eu digo. OK, VIVIAN... MENOS, MENOS VIVIAN! e ela apenas ri! Ri enlouquecida.
    -Sabia que liguei apenas para escutar isso? Ela diz.
    E eu, nosso, realmente algumas coisas mudam. E ela: - Pois é, estou praticamente casada.
    Neste momento me lembre da crise de Rob Fleming em Alta Fidelidade. E rio novamente e apenas digo: - Parabéns! com uma voz pouco entusiasmada, mas aparentemente feliz.
    Ela: - Pois é, talvez eu tivesse que viver um pouco mais, talvez eu se tivéssemos...
    Eu começo a cantarolar a música Quase – Pato Fu, e caímos na risada novamente.
    Ela: - Tá, esquece!  Eu: - Nunca!
    Ela: - Sou ridícula, né? Eu: - Menos Vivian! - Menos Vivian!
    E rimos novamente.
    Ela se despede e conversamos muito pouco depois disso. Passaram alguns anos e perdemos contato. Mas esses foram alguns anos incríveis que passei com a minha Winnie.

Kevin Rodhes - personagem do livro Terapia escrito por djpandacwb

segunda-feira, 9 de abril de 2012

A MARCA NO ROSTO

A MARCA NO ROSTO
    No colegial fiz um curso fotografia, aprendi técnicas como: Regra dos terços e Proporção Áurea (torna as imagens mais agradáveis), Longa Exposição (utiliza a iluminação em movimento formando desenhos), Panning (fotografia de objeto em movimento que dá a impressão que ele pareça imóvel e a sensação de velocidade venha do fundo em “movimento”), Lens Flare (uma distorção do raio de luz quando ele entra diretamente pela lente – porém pelas bordas, não exatamente pelo centro.), Golden Hour (utiliza a iluminação do pôr ou no nascer do sol), Contraluz (quando o objeto a ser fotografado é colocado entre a câmera e a fonte de luz, fazendo com que a iluminação fique na parte de trás do elemento e não na frente, como o usual. Isso faz com que o fundo fique mais claro e produz lindas imagens de silhuetas, ou de maneira suave pode realçar o objeto) e o Bokeh (técnica que utiliza desfoque ocasionado pelas luzes ou áreas ao fundo da imagem).
    Utilizei várias dessas técnicas em diversos e incontáveis momentos, talvez até conte alguns desses outros momentos, mas o que me lembro agora foi o Bokeh, que se tornou minha técnica favorita, sendo para mim a mais significativa.
    Utilizei desta técnica para fotografar uma das mais belas garotas que conheci naquela época. Uma jovem de olhos claros – verdes - e cabelos curtos e muito escuros. Tinha seios pequenos e um corpo esguio. Conheci Léa num curso de impressão. Na aula de litografia percebi que tinha traços fortes, como sua personalidade. Delicada a limpar a pedra, suave. Na aula de xilogravura, tratava a madeira de forma mais desajeitada e sem paciência.
    Comecei a conversar com Léa com um certo receio, não sei se por eu ser inocente ou por ela ser um objeto de desejo de muitos que me olhavam com olhares fatais. Apenas me lembro que não me sentia tão confortável com a amizade daquela garota até tirarmos algumas fotos que me marcam e acredito que a ela também.
    Estávamos saindo da cantina, conversando sobre as aulas de impressão e sobre minha nova paixonite (sim, naqueles dias sofria do mal adolescente de me apaixonar a cada 5 minutos), quando saco minha câmera e digo; - Sorria!
    Léa responde com um sorriso amarelo sem graça e mostra a língua com um ar de colegial (afinal, ela era uma colegial).
    Eu grito: CÍNICA!
    Léa não agüenta e cai na gargalhada. Eu registro o momento fotografando.
    Léa grita e briga comigo, ameaça  me agredir com a sua força de garota magra, para que eu entregasse o filme da máquina fotográfica (não havia câmeras digitais naquela época).
    Eu respondo sarcasticamente: -Não bate que eu gamo, hein!
    Ela responde com um tapa na minha cara, e com um olhar cínico e diz: - Então que seja meu, o seu coração.
    Com o impacto do forte tapa, do forte gênio, é inevitável a minha queda no pavimento dos corredores.
    Ela toma minha máquina fotográfica no susto, e imortaliza em imagem a marca em meu rosto.
    As pessoas saindo das salas, adentrando nos corredores e vendo os cinco dedos de Léa estampados em minha face. Preocupados e confusos.
    Levanto e apenas sussurro: - Tapa de amor não dói! E eu sou um mero apaixonado.
    Léa e eu sentimos risos tempestuosos saírem de nossos corpos e risadas incontroláveis e  loucas. Nos retiramos por impulso do local.
    Após o incidente, já contendo as gargalhadas, Léa me pergunta quem é minha nova paixonite. Eu respondo: - Pode ser você? E volto a rir.
    Ela responde: -NÃO!!! Com um ar debochado e insinuando minha loucura.
    -Ah, você não acredita em amor? Eu pergunto debochando também.
    -Amor é coisa de cinema. Ela responde com uma voz doce forçada.
    -Então vamos fazer um filme! Acrescento com uma voz atuante de apaixonado.
    Voltamos a rir, o riso adolescente e sem sentido.
    Tá, falando sério agora. Quem é a nova paixonite? – ela questiona.
    Isso é importante? Acho que devemos sair daqui e esperar duas horas, - eu respondo.
    Léa com cara de curiosa pergunta: -Por que esperar duas horas? Ela vai chegar?
    Eu respondo: -Não, mas as fotos ficarão prontas se mandarmos para a revelação.
    Reveladas as imagens na foto de Léa, ela aparece nítida, num fundo borrado no melhor estilo Bokeh, com um sorriso que “quebra minhas pernas” e com um olhar fixo que nunca me deixou mentir.
    E a minha imagem, com um olhar digno de pena, com os óculos virados e a marca em meu rosto, a vergonha em minha alma pela impressão dos 5 dedos e o riso reprimido pelo susto momentâneo.
    Nós representados para sempre, inalterados e eternos. Se uma imagem  vale mais que mil palavras, essas duas imagens eu aposto não terem preços, apenas muito apreço.

Kevin Rodhes - personagem do livro Terapia escrito por djpandacwb

quinta-feira, 5 de abril de 2012

A ÚLTIMA DANÇARINA

A ÚLTIMA DANÇARINA
    Ela dançava loucamente, daquele jeito que se dança como se ninguém estivesse te vendo. Seus cabelos balançavam, sua franja cobria o rosto de uma maneira sexy. O som era drum`n bass, “Tem que Valer – Caleidoscópio“.
    Tinha os cabelos curtos loiros pintados cobrindo o pescoço, sobrancelhas castanhas claras e olhos castanho mel. Uma tatuagem de um tigre branco saindo das costas. O tigre brilhava na luz negra e aparentava  defende-la enquanto dançava. A saia xadrez em vermelho com listras verdes e meias brancas longas, uma camisa curta, quase colegial.
    Ela cantava e eu acompanhava. Acompanhava sua voz, seus passos, seu olhares. As amigas dela me acompanhavam. No meu run saborizado –maçã - no meu perfume embriagante. Estávamos celebrantes. O botão da camisa tangenciava os seios médios e firmes. A gola encobria e revelava o pescoço.
    Certo que meu amigo estava discotecando, colocando a sua seleção nomeada pussy cat (as músicas sempre tinham um vocal forte, feminino, geralmente rápido e de batidas fortes, algumas tinham acompanhamento de piano e sax, outras retoques pincelados de violino, muito house chicago, house diva).
    As garotas dançavam, bebiam e elogiavam meus passos. Algumas comparavam-me como um equalizador digital, um display de ondas rápidas e de movimentos marciais que lutavam para alcançar a garota protegida pelo tigre branco. Bocas, sorrisos, óculos escuros. A luz do estrobo marcava o ritmo das fisionomias extasiadas. Incansáveis até as luzes da boate se acenderem e irmos para fila após o convite de retirada.
    Silêncio constrangedor, mãos dadas e nem sabia seu nome. Tínhamos ensaiado beijos imaginários, tínhamos fantasiado rostos orgasmáticos, tínhamos compartilhado um momento. E agora, apenas o silêncio. Mão dadas suadas, palavras faltam, palavras engasgam, frases simples tornam-se trava língua e o ridículo nos faz rir.
    Do lado de foram frases como: - Meu, você dança muito! – Ah, você também é incrível. Mãos se separam. Levanto meus óculos de aros largos e pretos, com formato retangular. Qual o seu telefone? Qual é o seu nome? - eu pergunto com um tom nerds e envergonhado. Escuto um número e o nome Ana. Ana, do quê, tenho muitas Anãs em meu celular? – eu pergunto. ANA PORRA! PORRA LOUCA! – ela responde.
    Seguro Ana pelo pescoço e dou um beijo. Não ensaiado. Não fantasiado. As amigas de Ana gritam, nos separam. Dizem que devem ir, que já chamaram o táxi.
    Eu jogo Ana no capô de meu carro e dou mais um beijo e digo: - Vamos comigo, cancelem o táxi. Ana sorri e morde os lábios inferiores com seus incisivos superiores.
    As meninas entra no carro, pergunto seus nomes. Estão em meu carro Carol, Dani e Nina no banco de trás, Ana a frente com seu corpo virado para mim. No rádio tocando Be-Bop-A-Lula – Stray Cats.
    Nina grita: - Muda, coloca algo mais animado. Ana responde: NÃO TOQUE NESTE RÁDIO. Ana se movimenta mexendo os ombros de um lado para o outro e acompanhando lentamente o movimento com o pescoço, fechava os olhos e como se Brian Setzer estivesse cantando para ela.
    Nina fala novamente: -Hey, você me escutou? Eu pergunto: É aqui que vocês moram, apontando para o prédio enquanto no rádio toca Disarm – Smashing Pumpkins.
    Dani responde: - Vamos descer. As meninas descem, menos Ana que sorri e me desarma. Ana sorri e me beija. Eu sorrio.
    Ana sai do carro, a rua é escura e sem saída. Tudo apagado. Apago as luzes, desligo o som e saio do carro. Vou jogar Ana novamente no capô do carro e ela me vira e fica sobre mim.
    Ela abaixa a calcinha e abre minha calça. Fazemos sexo rápido, silencioso e intenso. A sua perna levantada apoiada no pára-choques do carro. O ângulo perfeito de sua perna. E seus lábios em meu pescoço. Gozo, gemido reprimido, olhos cerrados.
    Ana sorri e me desarma. Ana sorri e me beija. Eu já estava sorrindo e a seguro pelo pescoço que mordo delicadamente.
    Até e boa noite. – ela diz. Uma ótima semana e até. – eu respondo
    Sigo a saia com o olhar, ela se vira para ter certeza que estou observando. Ela pisca. E entra no prédio sem portaria.
    Noite louca. Porra louca!

Kevin Rodhes - personagem do livro Terapia escrito por djpandacwb

quarta-feira, 4 de abril de 2012

BEYOND CLUB

BEYOND CLUB
    Beyond foi um club perfeito. Projetado por DJs, a minha turma de DJs, tinha uma ótima pista com foco nas atrações da casa, ou seja, especialmente voltada para nós mesmos.
    Algumas noites eu trabalhava de bartender neste bar. Aprendi a fazer 15 caipirinhas em 3 minutos. Ótimos coquetéis. Escolhia os drinks das garotas e elas sempre pediam bis.
    Muitas delas eu conheci por acaso, algumas outras dançando. Muitas vezes me acabei na pista com alguma estranha que conhecia algumas garrafas de água depois. Acho que isso acontece até hoje. Só que esqueça a água, se ela não for uma garota que realmente goste de água. Naquelas noites, a droga era o ecstasy, assim, nada de álcool para cortar a vibe.
    Dayana, era uma garota mais velha, uns 10 anos, eu com meu vinte e a garota perto dos trinta. Usava óculos escuros. Usava os cabelos ruivos, para o laranja. Sempre de óculos escuros, para esconder as pequenas rugas ou para esconder as pupilas dilatadas.
    Nos encontramos numas dessas loucas noites, dançando numa boate GLS. Ela estava alucinada, passava a mão nos cabelos curtos. Me puxava  a dançar. Eu segurava em sua cintura e acompanhava os movimentos. Ela me girava, me fazia abraçá-la. Conduzia meus passos, minha direção, meu rumo. Seu perfume sério, doce e sedutor fugia ao pescoço e rodopiava minha mente. E meus lábios em seus lábios ardentes pediam mais, pediam água, pediam o suor.
    Repetíamos nossos encontros inúmeras vezes no Beyond, gostaríamos que fossem infinitos como a logo do club.
    Ela era dona de uma casa grande, seu irmão andava de skate, um campeão local que tinha muito talento para isso. Dayana tinha outros talentos,  o melhor sexo oral da minha vida e de alguns de meus amigos. Além de charme e experiência, ela era uma dama. Mas entre os jovens que competiam por números, ela conseguia se destacar. De espírito livre, talvez a primeira que conheci, me apegava ao prazer e uma ótima companhia.
    Ela adorava tomar um kir royal, deve ser por isso que eu sempre lembro do sabor de cassis quando penso nela.  Dayana tinha um ar aristocrata, já tinha dois filhos, nunca esquecia de suas responsabilidades, se formando em direito e já pensando em pós-graduação, mas nunca abria mão de seus desejos. Ela conciliava perfeitamente a sua vida, sem esquecer quem era, mesmo não sabendo quem seria.


Kevin Rodhes - personagem do livro Terapia escrito por djpandacwb

terça-feira, 3 de abril de 2012

HEADPHONE

HEADPHONE
    Lembro a primeira vez que usei um headphone, tinha perto dos oitos anos, meu disco favorito era “Thriller” de Michael Jackson. Adorava acompanhar o ponteiro analógico do aparelho de som, um toca disco de vinil  com 2 partes para fitas k7 e sintonizador de rádio AM/FM.
    O som sempre me fascinou. Escutava cada faixa e desde cedo gostava de dançar. Um dançar tímido de criança envergonhada. Aquela dança sincera de quando ninguém está te vendo. O rei do pop foi uma influência marcante em minha vida. Minha música favorita sempre foi Billie Jean.
    Eu com minha camiseta cinza com estampa do Mickey Mouse, minha infância foi boa.  Mas a relação com o headphone tornou-se mais íntima aos 14 anos, quando ganhei meu próprio aparelho de som com fita k7 e rádio AM/FM, eu editava as fitas na época. Fazia pedido às rádios para que tocassem minhas músicas favoritas. Me tornei um fã de Ace of Base e Gala. Das músicas nacionais, sempre fui um adorador de Legião Urbana e Paralamas do Sucesso. A música da minha vida, talvez tenha sido Teatro dos Vampiros ou Meu Erro.
    Mas o que fazia com que me apaixonasse pela música pop, foi sempre a qualidade do som nos instrumentos musicais e principalmente os efeitos utilizados pela magia do som estéreo. Sentir a música passeando em meu cérebro e movimentando minha imaginação. Não eram simples ondas, para mim era um trabalho divino. Crédito aos produtores. Sim, a maioria consegue realmente transformar música em algo mais.
    Aos dezoito anos me tornei DJ de uma casa noturna. Antes, disso devo confessar que conheci alguns DJs da minha cidade. Na verdade, conheci uma gang deles. Aprendi o maior segredo com eles, contar oitavas. Sim, para ser um bom DJ, o fundamental é saber contar as oitavas nas músicas. Contar as oitavas e sentir a música mudar, sentir a velocidade e com o tempo pegar o ritmo na primeira vez que escuta algo.
    Imaginava o som como imagens se formando, como um léxico pictórico, eu via as palavras do mesmo modo que os quadrinhos representavam: POW!  PAFT! CATAPLASH! Do mesmo modo que eram representadas as brigas na série antiga de Batman, onde estrelava Adam West.
    A minha gang de DJs discotecava por toda cidade, saíamos de terça a domingo. Bebíamos de graça, sempre VIPs nos locais. Chegávamos no valet e deixávamos o carro sobre a calçada, ouvíamos buzinas e o manobristas gritando para os irritados: -Fiquem tranqüilos, não é assim que as coisas funcionam, estes caras tem prioridade. Deixavam nossos carros ao lado dos carrões dos donos da casa noturna.
    Cumprimentávamos as hostess que nos chamavam pelo nome ou apelido carinhoso. Ficávamos com elas, com as garçonetes, com as caixas do bar, com as meninas mais lindas da balada.
    Cada um ao seu estilo, tínhamos metas. Éramos jovens na balada tentando preencher nosso vazio. Tínhamos namoradas, esquemas, amantes. Tínhamos até algumas fãs. Nada preenchia nosso vazio, mas nos divertíamos. Como lords que entretinham o público e adorados por nosso estilo e bom gosto. Tínhamos uma imagem e personalidades peculiares.
    Tentei ser um bom moço, era o cara que arrumava as bagunças, nunca fui o mais belo, era o mais carinhoso. Sempre fui o cara que consolou e explicou que não havia nada de errado. Sempre a testemunha para limpar as cagadas sentimentais causadas. Era o cara que se aproximava do grupo e trazia as meninas para perto. Um tipo de isca, não para ser mordido, mas sim para causar um ar de mistério e mostrar que o caminho estava aberto.
    Funcionava como as rodas de colégio onde um amigo fala para a menina que alguém está afim dela, mas de um modo silencioso e aperfeiçoado. Talvez nessa época que as palavras começaram a deixar de serem toscas, rústicas e começaram a ser moldadas e afiadas como bisturi.
    Nossos egos eram enormes, não cabíamos em nós mesmos. Olhávamos para as meninas como objetos, pior, como números. Apenas contabilizávamos as novas, figurinha repetida não completava álbum era o lema dos adolescentes. Assim, o desafio era cada vez maior.
    Desafio era a palavra, era a sensação. Diversão era a ordem e cumpríamos como soldados dedicados a uma causa. Soldados tentando não ser mais um na noite, porém sempre esquecidos entre o gelo seco e o álcool que nos entorpecia.
    Conheci muitas figuras marcantes, muitas pessoas que carrego até hoje em minha vida. São tantos nomes e situações. Se para uma pessoa que aproveita a balada já é difícil, imagina para os que vivem nela. Nomes e rostos, beijos e amassos. Conversas interessantes que simplesmente foram apagadas.
    A vida foi boa, foi fútil, foi aprendizado. Contar sempre as oitavas, contar até oito e não dez. Respirar o ar viciado e transpirar as palavras e os gestos. Meditar ao dançar. Esvaziar a mente e enfrentar a vida. Contar, dançar e viver.
   

Kevin Rodhes - personagem do livro Terapia escrito por djpandacwb